quinta-feira, 10 de junho de 2010

áquela luz ... aguarela timida que se contorcia no calor das horas,
as pessoas que inocentemente transitavam os desvios dos seus destinos,
pareciam guerreiros,
vis e atrozes soldados,
regressados a casa soluçando os despojos do dia.

No edificio, carnudo de vida,
Respirava-se a tranquilidade que só um dia ameno de verão pode proporcionar.
Os olhares dos que ali ociavam,
entrecruzavam-se,
cravando-se lenta e amargamente uns nos outros.

Sentia-se o débil crepitar da actividade lá fora.
A leve cozedura do destino a apurar as suas subtilezas.

domingo, 16 de maio de 2010

Os taxis passavam a toda a velocidade. Eram as cinco da tarde e a sombra da hora de ponta tomava forma naquela tarde corriqueira de verão anunciado. A torreira do meio-dia aquecera a moleza discreta dos peões que se sacudiam agora na aspereza das horas vespertinas. O Sol abrandara e de vez em quando tambem o trânsito que se começava agora a afogar em si mesmo. O vrum-vrum dos automóveis distraía as mentes dos assuntos do dia-a-dia e eu, nisto, esquecera-me do braço levantado, feita estátua da Liberdade, na esperança de ancorar um taxi desgovernado. Combinara o encontro ás 6 p.m. e depois de tanto tempo perdido na preparação não estava disposta a deitar tudo por água abaixo.
E sim, finalmente um tresloucado atravessa a infinidade de vias que alimentam a Rua para se encostar mesmo a meu lado e numa mistela de azedume e palavrões me fazer sinal para entrar para o banco de trás. Era o meu táxi. A minha boleia para um destino marcado.

sábado, 8 de maio de 2010

Arranque

O fumo desenhava no espaço a sombra dos seus bruscos gestos. A um canto, numa cadeira sentado, os lábios que pacientemente sorviam do filtro do cigarro, iam lentamente agonizando.
O ruído que distraídamente perpassava pela sala, qual convidado que procura o anfitrião, soprava-lhe indelevel pedindo atenção. Mas os seus olhos não desviavam centimetro do seu alvo. Pregados na janela, observavam a porta de entrada do edifício em frente, residência oficial de sua Excelência o Doutíssimo juiz Rómulo Ruiz, eminência maior do mundo da jurisdicção.